Uma sonata para nossos filhos
Música para bebês. Será que isso é possível? Não falta inventar mais nada... Antes de pensar tudo isso, responda: qual é o sentido que nunca descansa, nem mesmo quando dormimos? Sim, a audição. A música, presente dos deuses da mitologia do mundo inteiro, é uma das formas mais profundas de arte. Penetra em nossa mente, agita nosso corpo e tem até o poder de curar. Mas não são todos os sons que carregam em si esse tipo de poder. Principalmente quando falamos – e esse é o nosso caso – de bebês ainda pequeninos. Eles começam a sentir vibrações logo depois da fecundação. A audição é o primeiro sentido que o feto, aos dois meses (ainda do tamanho de um morango), tem. Ele sente! O coração e vibrações internas do corpo da mãe, além das águas que o envolvem, formam, quem sabe, uma sinfonia, em primeiro lugar para sua pele, depois para seus ouvidos – ainda não inteiramente formados. Nunca mais – se ele não tiver o destino de Beethoven – ele deixará de escutar. Durante a gestação, os sons ficam graves, nos conta a musicoterapeuta Lilian Coelho. Ele ouve as mesmas músicas que sua mãe e poderá sentir o ritmo da dança, quando ela ensaia uns passinhos com o papai. Vai aprendendo, devagarinho, a saber a diferença entre os estados de espírito da mulher (que ainda é parte dele): pelo tom de voz ele identifica a raiva, a alegria, a tristeza, a angústia. Então vem o mundo. Além da luz diferente, há cheiros, gostos, texturas, temperaturas e, claro, milhares e milhares de sons. Há, às vezes, a sensação de que algo mudou. Ele já não é mais inteiro, precisa dessa pessoa maravilhosa para matar a fome, acabar com o desconforto e o tocar de forma carinhosa. O bebê tem alguma proteção para todos os sentidos: tato, paladar, visão e olfato são vigiados pela mamãe. Mas os sons lá estão, onipresentes. Não há fuga possível – a não ser um choro ou uma careta quando passa dos limites. Ordenadas em forma de música, ritmo, melodia, tom, timbre e harmonia, as notas da escala viram música e são percebidas como prazerosas. Pode apostar que seu filhinho vai gostar de escutar uma canção de ninar (principalmente porque você estará com ele no colo) ou uma rima bonitinha, que o faz sorrir (a essa altura ele já conquistou essa façanha). E assim, através de você, de sua voz, de seu corpo, seu pequeno bebê irá crescer e aprender milhares de coisas, até ganhar asas próprias e construir sua própria história.